“Labirintite”, vertigem e tonteira. Isso tem cura?

As crises de vertigem, vulgarmente chamadas de “labirintite”, são na verdade uma condição denominada Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB), desagradável sensação de que, ao mudar a posição da cabeça, de repente tudo gira ao seu redor. Geralmente vem acompanhada de náuseas, ocorrem várias vezes ao dia, podem durar semanas indo e vindo, pois mesmo que melhorem por algum tempo, costumam retornar. Ocorrem mais em pessoas acima de 50 anos, e em mulheres, embora possam ocorrer nos homens e em qualquer idade. Só quem já passou por esse incômodo sabe o quanto estas crises são desagadáveis e comprometem a qualidade de vida.




Os labirintos são estruturas formadas por duas cavidades – sáculo e utrículo – que possuem no seu interior minúsculos cristais de cálcio, e três canais semicirculares, como as asas de uma xícara, ligados a estas cavidades e que possuem apenas uma coluna de líquido dentro. São estas pequenas estruturas localizadas na orelha interna, na profundidade do crânio, que nos informam para onde estamos movimentando a cabeça.




Quando, por algum motivo, alguns destes minúsculos cristais de cálcio passam para dentro de um destes canais semicirculares, ao movimentarmos a cabeça somos surpreendidos por uma desagradável sensação de ilusão de movimento (vertigem), muitas vezes acompanhada por náuseas e menos frequentemente vômitos. Movimentos como abaixar para pegar algo no chão ou calçar os sapatos, estender a cabeça para pingar colírio ou, mais frequentemente, quando nos deitamos ou mudamos a posição da cabeça no travesseiro fazem surgir a vertigem, e aí tudo gira!


As vertigens costumam ser rápidas, com duração de segundos, mas podem provocar quedas com todas suas complicações tais como: diversos tipos de traumatismos e até mesmo fraturas.


Hoje, graças a evolução do conhecimento sobre o labirinto, este tipo de vertigem, posicional paroxística e benigna (o tipo mais comum de vertigem na humanidade), não precisa mais durar semanas e pode ser rapidamente tratada e eliminada sem a necessidade de se tomar remédios. O teste para se fazer o diagnóstico é feito com as mãos e dispensa exames complementares (exame de sangue, tomografia ou ressonância de cabeça). O tratamento também é feito com as mãos, por meio de manobras. O mais importante é saber qual canal está com o “cristalzinho”, e onde ele se encontra dentro do canal - existem dezoito (18) possibilidades - e realizar a manobra correta para fazê-lo voltar ao seu local de origem, de onde nunca deveria ter saído. Feito isto, as crises de vertigem desaparecem, muitas vezes numa única consulta. A taxa de cura ultrapassa 90%, mesmo nas pessoas que sofrem este tipo de vertigem há meses ou até mesmo há anos!!! Vejam alguns dos nossos trabalhos científicos a este respeito aqui mesmo neste site em: publicações.


Conclusão: a VPPB é a vertigem mais comum no ser humano e tem cura. Para diagnosticar e tratar não há necessidade de fazer exames complementares, e não se utilizam remédios (anti-vertiginosos). O diagnóstico é clínico e o tratamento é feito por meio de testes e manobras com as mãos.


Eliana Teixeira Maranhão é fisioterapeuta, mestre e doutora pela UFRJ e licenciada, após exames, em Reabilitação Vestibular pela Associação Americana de Fisioterapia e membro da Sociedade Bárány.


Péricles de A. Maranhão-Filho é professor, neurologista, mestre e doutor pela UFRJ, e membro da Sociedade Bárány.